YANNI DANNIELY - CAICÓ/ RN

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011



A solidão dos homens tem a medida da solidão de suas mulheres. Isso eu disse e escrevi - e repito - em dezenas de palestras por este país afora.

Aí me pedem para escrever sobre o casal perfeito: bom para quem gosta de desafios.

O casal perfeito seria o que sabe aceitar a solidão inevitável do ser humano, sem se sentir isolado do parceiro - ou sem se isolar dele?!

O casal perfeito seria o que entende, aceita, mas não se conforma, com o desgaste de qualquer convívio e qualquer união?!

Talvez se possa começar por aí: não correr para o casamento, o namoro, o amante (não importa) imaginando que agora serão solucionados ou suavizados todos os problemas - a chatice da casa dos pais, as amigas ou amigos casando e tendo filhos, a mesmice do emprego, chegar sozinho às festas e sexo difícil e sem afeto.

Não cair nos braços do outro como quem cai na armadilha do "enfim nunca mais só!", porque aí é que a coisa começa a ferver.

Conviver é enfrentar o pior dos inimigos, o insidioso, o silencioso, o sempre à espreita, o incansável: o tédio, o desencanto, esse inimigo de dois rostos.

Passada a primeira fase de paixão (desculpem, mas ela passa, o que não significa tédio nem fim de tesão), a gente começa a amar de outro jeito.

Ou a amar melhor; ou, aí é que a gente começa a amar.
A querer bem; a apreciar; a respeitar; a valorizar; a mimar; a sentir falta; a conceder espaço; a querer que o outro cresça e não fique grudado na gente.

O cotidiano baixa sobre qualquer relação e qualquer vida, com a poeira do desencanto e do cansaço, do tédio.

A conta a pagar, a empregada que não veio, alguém na família doente ou complicada(o), a mãe ou o pai deprimido ou simplesmente o emprego sem graça e o patrão de mau humor.

E a gente explode e quer matar e morrer, quando cai aquela última gota - pode ser uma trivialíssima gota - e nos damos conta: nada mais é como era no começo.

Nada foi como eu esperava.
Não sei se quero continuar assim, mas também não sei o que fazer. Como a gente não desiste fácil, porque afinal somos guerreiros ou nem estaríamos mais aqui, e também porque há os compromissos, a casa, a grana e até ainda o afeto, é preciso inventar um jeito de recomeçar, reconstruir.

Na verdade devia-se reconstruir todos os dias.
Usar da criatividade numa relação.
O problema é que, quando se fala em criatividade numa relação, a maioria pensa logo em inovações no sexo, mas transar é o resultado, não o meio.

Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais belas que ouvi:
"Todos os dias de nosso casamento (de uns 40 anos), eu te escolhi de novo como minha mulher".

Mas primeiro teríamos de nos escolher a nós mesmos diariamente. Ao menos de vez em quando sentar na cama ao acordar, pensar: como anda a minha vida?
Quero continuar vivendo assim?
Se não quero, o que posso fazer para melhorar?

Quase sempre há coisas a melhorar, e quase sempre podem ser melhoradas. Ainda que seja algo bem simples; ainda que seja mais complicado, como realizar o velho sonho de estudar, de abrir uma loja, de fazer uma viagem, de mudar de profissão.

Nós nos permitimos muito pouco em matéria de felicidade, alegria, realização e sobretudo abertura com o outro.

Velhos casais solitários ou jovens casais solitários dentro de casarão terrivelmente tristes e terrivelmente comuns.

É difícil? É difícil.
É duro? É duro.

Cada dia, levantar e escovar os dentes já é um ato heróico, dizia Hélio Pellegrino.
Viver é um heroísmo, viver bem um amor mais ainda.

O casal perfeito talvez seja aquele que não desiste de correr atrás do sonho e da certeza de que, apesar dos pesares, a gente, a cada dia, se escolheria novamente!!!

(Lya Luft)

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