" Há certas horas, em que não precisamos de um amor... não precisamos da paixão desmedida... há certas horas, que só queremos a mão no ombro, o abraço apertado ou mesmo o estar ali, quietinho, ao lado... sem nada dizer...há certas horas, quando sentimos que estamos pra chorar, que desejamos uma presença amiga, a nos ouvir paciente, a brincar com a gente, a nos fazer sorrir... alguém que ria de nossas piadas sem graça... que ache nossas tristezas as maiores do mundo... que nos teça elogios sem fim... e que apesar de todas essas mentiras úteis, nos seja de uma sinceridade inquestionável... que nos mande calar a boca ou nos evite um gesto impensado... alguém que nos possa dizer: Acho que você está errado, mas estou do seu lado... "
REFLEXÃO:
Por que será que nos agarramos a situações para as quais conhecemos perfeitamente o desfecho? Sabemos de antemão o que fazer, mas somos tomados pela angústia de ter que assumir uma decisão que vai nos fazer sofrer. Colocamos à frente um passo que poderia ter sido tomado agora. Nos enganamos conscientemente. Prorrogamos a decisão para que a dor seja prorrogada. É possível que dentro de nós achamos que a dor esticada vai ser mais suave.
Se não podemos evitá-la, pelo menos vamos vivê-la a prestações, sem muita consciência que os juros podem ser muito altos no fim. Dar um passo errado não nos custa tanto quanto ter que assumi-lo. E ter que conviver com ele ou as conseqüências dele. Uma vez que reconhecemos o caminho errado, o normal seria voltar. Mas o que fazemos?
Olhamos pra trás, medimos o caminho percorrido, nos perdemos no tempo sem sair do lugar, mesmo se a vida se apressa ao nosso redor.
Conhecemos o abismo que se apresenta diante da situação, mas nos recusamos a admití-lo, embora saibamos que não queremos cair nele. Caminhamos a passos lentos, guiados pela esperança que nunca nos abandona, mesmo sabendo que uma hora ou outra teremos que pôr o ponto final. Fim da história. Fim de nós de uma certa maneira, ou daquilo que vivemos e sonhamos.
Acreditamos num pequeno lapso de tempo que nunca mais outra oportunidade virá a nós, como se a vida fosse limitada. Nos entregamos à dor como nos entregamos ao amor. Inteiramente. E somos invadidos por uma sombra que nos isola de tudo. Mas que maravilhoso remédio é o tempo!
Um dia acordamos e tudo parece mais ameno. Abrimos os olhos. Começamos a notar coisas para as quais estávamos cegos.
O dia seguinte será ainda melhor e virá um outro e um outro. Quão grandioso é esse Maestro do universo! Com um simples sopro ressuscita o sol a cada manhã e nos eleva com ele. Somos dessa maneira não uma pessoa nova, mas uma pessoa renovada. Mais vivida. Carregados de experiências que nos serviram de lição, que nos enriqueceram e nos tornaram uma pessoa, quem sabe, melhor.
Letícia Thompson
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