YANNI DANNIELY - CAICÓ/ RN

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domingo, 16 de janeiro de 2011



A CADERNETA VERMELHA
O carteiro estendeu o telegrama.José Roberto não
agradeceu e enquanto abria
o envelope, uma profunda ruga sulcou-lhe a testa.

Uma expressão mais de
surpresa do que de dor tomou-lhe conta do rosto.

Palavras breves e incisas:

- Seu pai faleceu. Enterro 18horas. Mamãe;

Jose Roberto continuou parado, olhando para o vazio.
Nenhuma lágrima lhe
veio aos olhos, nenhum aperto no coração.
Nada!Era como se houvesse morrido um estranho.
Por que nada
sentia pela morte do
velho?
Com um turbilhão de pensamentos confundido-o,
avisou a esposa, tomou
o ônibus e se foi, vencendo os silenciosos quilômetros
de estrada enquanto a
cabeça girava a mil.
No íntimo, não queria ir ao funeral e, se estava indo era apenas para que a
mãe não ficasse mais amargurada.
Ela sabia que pai e
filho não se davam bem. A coisa havia chegado ao final no dia em que, depois de mais uma chuva

de acusações, José Roberto havia feito

as malas e partido
prometendo nunca mais
botar os pés naquela casa.
Um emprego razoável, casamento, telefonemas à mãe pelo
Natal, Ano Novo ou
Páscoa...
Ele havia se desligado da família não pensava no pai e a última
coisa na vida que desejava na vida

era ser parecido com
ele.
O velório:
poucas pessoas.
A mãe está lá, pálida, gelada, chorosa.
Quando reviu o filho, as lágrimas
correram silenciosas, foi um abraço de desesperado silêncio.
Depois, ele viu o corpo sereno

envolto por um lençol de rosas vermelho,
como as que o pai gostava

de cultivar.
José Roberto não verteu uma única lágrima, o coração não pedia.
Era como estar diante de um desconhecido um estranho, um...
O funeral: o sabiá cantando, o sol se pondo.
Ele ficou
em casa com a mãe até
a noite, beijou-a e prometeu que voltaria trazendo netos e esposa para
conhecê-la.
Agora, ele poderia voltar à casa, porque
aquele que não o amava,
não estava mais lá para dar-lhe

conselhos ácidos nem para

criticá-lo.

Na hora da despedida a mãe colocou-lhe algo pequeno e retangular na mão
Há mais tempo você poderia ter recebido isto - disse.

Mas, infelizmente só
depois que ele se foi eu encontrei entre os guardados mais importantes...

Foi um gesto mecânico que, minutos depois de começar a viagem, meteu a não
no bolso e sentiu o presente.

O foco mortiço da luz do
bagageiro, revelou
uma pequena caderneta de capa

vermelha.
Abriu-a curioso. Páginas amareladas.

Na primeira, no alto, reconheceu a
caligrafia firme do
pai:

"Nasceu hoje o José Roberto.

Quase quatro quilos!
O meu primeiro filho,
um garotão!

Estou orgulhoso de ser o pai daquele

que será a minha
continuação na Terra!".

À medida que folheava, devorando cada anotação, sentia um aperto na boca do estomago, mistura de dor e perplexidade,

pois as imagens do passado ressurgiram firmes e

atrevidas como se acabassem de acontecer!

"Hoje, meu filho foi para escola.

Está um homenzinho!
Quando eu vi ele de uniforme, fiquei

emocionado e desejei-lhe um futuro
cheio de sabedoria.

A vida dele será diferente da minha,

que não pude estudar
por ter sido
obrigado a ajudar meu pai.

Mas para meu filho desejo o melhor.

Não permitirei que a vida o castigue".

Outra página

"Roberto me pediu uma bicicleta, meu salário não dá, mas ele
merece porque é estudioso e esforçado.

Fiz um empréstimo que espero pagar
com horas extras".

José Roberto mordeu os lábios.

Lembrava-se da sua intolerância,

das brigas feitas para ganhar a

sonhada bicicleta.

Se todos os
amigos ricos tinham uma,
por que ele também não poderia

ter a sua?

"É duro para um pai castigar um filho

e bem sei que ele poderá me odiar

por isso;

entretanto, devo educá-lo para

seu próprio bem."

"Foi assim que aprendi a ser um

homem honrado e esse é
o único modo que sei
de ensiná-lo".
José Roberto fechou os olhos e viu toda a cena quando por causa de uma
bebedeira, tinha ido para a cadeia e naquela noite, se o pai não tivesse
aparecido para impedi-lo de ir ao baile com os amigos...

Lembrava-se apenas do automóvel retorcido e manchado de
sangue que tinha
batido contra uma árvore...
Parecia ouvir sinos, o choro da

cidade inteira enquanto quatro caixões seguiam lugubremente para o
cemitério.
As páginas se sucediam com ora curtas, ora longas anotações,

cheias das respostas que revelam o quanto, em silêncio e amargura,
o pai o havia amado.
O "velho" escrevia de madrugada.
Momento da solidão, num grito de silêncio, porque era desse jeito que ele era,

ninguém o havia ensinado a chorar e a dividir suas dores,

o mundo esperava que fosse durão

para que não o julgassem nem
fraco e nem covarde.

E, no entanto, agora José Roberto estava tendo a prova que, debaixo daquela
fachada de fortaleza havia um coração tão terno e cheio de amor.

A última página.
Aquela do dia em que ele havia
partido:

- "Deus, o que fiz de errado para meu filho me odiar tanto?

Por que sou considerado culpado,

se nada fiz, senão tentar
transformá-lo em um homem de
bem?"
"Meu Deus, não permita que esta injustiça me atormente para sempre.

Que um dia ele possa me compreender e perdoar por eu não ter sabido ser

o pai que ele merecia ter."

Depois não havia mais anotações e as folhas em branco davam a idéia de que o
pai tinha morrido naquele momento,

José Roberto fechou
depressa a caderneta,
o peito doía.

O coração parecia haver crescido tanto,
que lutava para escapar pela boca.

Nem viu o ônibus entrar na
rodoviária, levantou aflito e
saiu quase correndo porque precisava

de ar puro para respirar

A aurora rompia no céu e mais um dia começava.

"Honre seu pai para que os dias de sua velhice sejam tranqüilos!" - certa
vez ele tinha ouvido essa frase e jamais havia refletido o na profundidade
que ela continha.

Em sua egocêntrica cegueira de
adolescente, jamais havia
parado para pensar em verdades mais profundas.

Para ele, os pais eram descartáveis e sem valor como as embalagens que são
atiradas ao lixo.

Afinal, naqueles dias de pouca reflexão

tudo era juventude, saúde, beleza,

musica, cor, alegria,
despreocupação, vaidade.

Não era ele um semideus?

Agora, porém, o tempo o havia envelhecido, fatigado e também tornado pai aquele falso herói.

De repente.

No jogo da vida, ele era
o pai e seus atuais contestadores.

Como não havia
pensado nisso antes?

Certamente por não ter tempo, pois andava muito ocupado
com os negócios,

a luta pela sobrevivência, a sede

de passar fins de
semana longe da cidade
grande, a vontade de mergulhar no silêncio sem precisar
dialogar com os
filhos.

Ele jamais tivera a idéia de comprar uma cadernetinha de capa vermelha

para anotar uma frase sobre

seus herdeiros, jamais lhe
havia passado pela cabeça escrever

que tinha orgulho daqueles

que continuam o seu nome.

Justamente ele, que se considerava o mais completo pai da Terra?
Uma onda de vergonha quase o prostrou por terra numa derradeira lição de
humildade.

Quis gritar, erguer procurando agarrar o
velho para sacudi-lo e
abraçá-lo, encontrou apenas

o vazio.
Havia uma raquítica rosa vermelha num galho no jardim de uma casa, o sol
acabava de nascer.

Então, José Roberto acariciou as
pétalas e lembrou-se da
mãozona do pai podando, adubando e cuidando com amor.

Por que nunca tinha
percebido tudo aquilo antes?

Uma lágrima brotou como o orvalho, e erguendo os olhos
para o céu dourado,
de repente, sorriu e desabafou-se

numa confissão aliviadora:

"Se Deus me mandasse escolher,
eu juro que não queria ter tido
outro pai que não fosse
você velho!

Obrigado por tanto amor, e me perdoe por
haver sido tão cego."

"FALE, CURTA, ABRACE, BEIJE,

SINTA E AME TODAS AS
PESSOAS COM QUEM VOCÊ PODE
VER E TOCAR, PRINCIPALMENTE A SUA FAMÍLIA"

DEUS O ABENÇOE.

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